quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Casualidades

Transavam ocasionalmente.
Ele comia ela.
Ela comia ele.
A certa altura ninguém estava certo de mais nada, se chamavam aquilo de sexo. Se era certo ou errado,
se certos orifícios deveriam ou não ser violados. Mas o final era sempre surpreendente, era como zerar o mesmo jogo varias vezes e nunca repetir o final. O sofá manchado era usado as vezes quando um dos dois
aprendiam algo novo por ai. E cada mancha era especial porque ele amava
como a perna dela tremia antes de gozar.
Ela amava como ele se perdia olhando em seus seios.
E começava sempre assim, um vinho, uma cerveja. Ela o beijava, as mãos se perdiam.
Urros desafinados, estranhos na noite. O destino parecia os unir, pois sempre que sentiam falta de
toda aquela bagunça eles simplesmente se esbarravam, as vezes em uma fila de supermercado, as vezes, pra
surpresa dele, na seção pornô de uma locadora qualquer.
Não havia uma hora errada, e todo momento parecia o ultimo. Então os dois se entregavam em oferecer prazer
um ao outro. Eram duas pessoas perdidas encontrando debaixo dos lençóis o que parecem ter procurado a vida
toda.
Mas ultimamente as coisas estavam estranhas.
Ele comia ela.
Ela estava ali.
Ele havia notado a falta de interesse, mas achou apenas que ela tinha tido um dia difícil e que talvez
ela não queria falar sobre isso. Que ela, talvez quisesse apenas que de alguma forma ele a fizesse esquecer.
Ela lhe dava credito pelo esforço, mas nada que ele fizesse faria sua perna tremer. Não dessa vez.
Eram muitos "talvez" e ele não conseguia se concentrar. A mente vagava. Até que se viu ali, nu,
com o pênis meia bomba na vagina dela. Ela de quatro nem notava o dedo dele em seu ânus.
A musica tocava lá fora, ele apenas olhou pra baixo e pela primeira vez ele sentiu vergonha dela.
Pegou rápido uma toalha jogada no chão e se cobriu, ela assustada olhava ao redor, como se tivesse acordado
de um transe e não reconhecera o lugar, entrou debaixo do lençol e olhou pra ele. Pela primeira vez ela
viu ele, sentado no chão do lado da cama, um cara comum. Não era mais aquele cara magnifico do qual
ela costumava se vangloriar na frente de suas amigas. Ele, era apenas um cara comum.
Continuava a olhar pra ele tentando entender a situação. E entendeu, ela costumava se orgulhar da vida que levava.
Era respeitada no trabalho, pelos amigos e família. Era independente, gostava de ser assim.
Por isso estava confusa. O que havia mudado? Porque agora ela se sentia velha? Usada? Se sentia doente?
Como chegara ali? Aquela situação?

A mente começou a trabalhar rápido, tentando entender.
Tudo bem - falou consigo mesma - você o conheceu na festa da Ana, fim do ano passado. Não, não, foi
no barzinho novo que o abriu perto de casa. Não também não. E ela começava a ficar preocupada, não lembrava
dele. Transavam a tanto tempo e ela não lembrava aonde o conhecera e porque ela estava pensando nisso
tudo agora. Onde ela estava com a cabeça? Ele poderia ser perigoso, não, isso não. Afinal se ele fosse
mesmo perigoso ele já teria feito algo.
Definitivamente tinha algo a ver com a Ana. Talvez se ligasse pra sua amiga ela saberia lhe dizer.
Mas aquela hora ela estaria dormindo. E não seria bom encher a cabeça dela com isso agora, porque ela andava
tão estressada. Um idiota andava espalhando por ai que havia transado com ela. Feito loucuras com ela,
e essa conversa tinha chegado nos ouvidos dos pais que não gostaram nenhum pouco. Era melhor não
incomodar a amiga agora - pensou.
Chegou a conclusão que estava fazendo tempestade em copo da agua, tudo que ela precisava fazer era perguntar
a ele aonde tinham se conhecido, só que de um jeito que ele não notasse que ela não sabia.
Talvez rir um pouco e perguntar com um ar nostálgico se ele lembrava de quando se conheceram.
Isso, era isso. No momento que tomava coragem pra quebrar o silencio a voz dele grave, disparou uma frase
que acertou seus ouvidos e agora a deixava enjoada e incapaz de responder o que quer que ele perguntasse depois.
E tudo isso porque, ele enrolado na toalha sentado do lado da cama disse:
- Ana, eu acho melhor eu ir embora.

Tudo que ela conseguiu pensar foi:
Porra, eu sou a Cláudia!

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